Vida natural

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Jardim Progresso, na Zona Norte é o bairro que tem maior número de terreiros de candomblé em Natal

Professores de Natal em visita ao terreiro de Mãe Luciene
Mesmo sendo uma religião que sofre muito preconceito, e o bairro sendo predominantemente ocupado por igrejas pentecostais, Jardim Progresso, na Zona Norte, é o bairro que tem o maior números de terreiros em Natal. São 14 ao todo. O mais interessante, é que ao se procurar saber no bairro da existência destes terreiros, muitos fingem não terem conhecimento, como se pode constatar hoje pela manhã.
Mas, um fato chamou a atenção da população do bairro nesta segunda-feira. É que dezenas de professores da rede municipal de ensino tiveram uma aula de campo, no terreiro de Mãe Lucine, que é um dos maiores do RN. Luciene, que atualmente está cursando Ciências da Religião falou sobre alguns símbolos e rituais do Candomblé e da Jurema.
Por ser religiões muito rica em simbologia, o tempo não deu para abarcar o universo de simbologia e ritualística da cultura. Porém, não se pode negar que os professores que estiveram nesta aula de campo saíram com muitas informações até o momento desconhecidas.
Na oportunidade, Luciene comentou que mesmo o preconceito sendo muito grande quanto a religião, não se pode negar a louvável iniciativa da Secretaria de Educação de Natal ter promovido esta aula de campo.  A mãe de santo também lembrou que mesmo existindo uma lei específica para o resgate a cultura afro-descendência, na realidade, em outras gestões eventos como este vinham sendo sempre adiado, o que culminava em falta de tomada de decisão. Na realidade, lembrou Luciene, era uma espécie de “banho-maria”, e assim, a gestão terminava seu período e nada de efetivo era feito.
Depois de feita estas considerações e saudações aos professores presentes no terreiro, Luciene conduziu a turma a entrada do terreiro, e fez uma caminhada por todo o espaço comentando e respondendo perguntas de cada simbologia presente no terreiro. Entre esta explicação, Luciene falou do simbolismo dos sacrifícios de animais. Ela lembrou que este é um ritual bastante questionado, mas em sua essência está a transferência de energia. “Nós não sacrificamos um animal simplesmente por sacrificá-lo. Para que isto aconteça se tem de ter um motivo bem claro. O sacrifício simboliza uma transferência de energia”, explicou. Na oportunidade, ele mostrou o couro de um bode que havia sido sacrificado. Neste caso, a carne serviu para alimentar a comunidade, e o couro será transformado em instrumento musical que será usado no ritual religioso.
Respondendo a uma pergunta da professora Aninha, Luciene falou sobre a importância dos vegetais no candomblé. Ela lembrou que cada vegetal plantado no terreiro tinha uma simbologia própria. No candomblé, cada orixás detém conhecimentos de diversas ervas, mais de cada. Além do candomblé, a jurema, que é uma religião genuinamente nordestina, também tem uma relação muito forte com a cura através das plantas. Inclusive, de que a religião leva o nome de uma árvore que é símbolo do Nordeste. Ela é resistente a seca e de suas raízes, caules e folhas e flores são retirados princípios ativos para diversos males que podiam acometer o índio nordestino, ou seja, o caboclo da mata. Assim, a árvore seria carregada de uma mística própria. 
NÚMEROS - Mesmo o número de igreja pentecostais sendo maioria, o fato é que as religiões de origem afrodescendente ocupam um bom espaço no bairro de Jardim Progresso. No bairro existem 14 terreiros, sendo o de Mãe Luciene o maior dele.